terça-feira, 2 de agosto de 2011

O tal "Projeto polêmico".




Há alguns dias ouço comentários relacionados ao projeto de lei encabeçado pela Dep. Estadual Luiza Maia, o tal “projeto polêmico” de vetar o uso do dinheiro público na contratação de bandas que em suas letras ferem a imagem da mulher e, até então eu não tinha feito uma reflexão sobre o assunto.

Começo pela hipocrisia social em que vivemos, onde o mal que nos cerca é culpa de qualquer coisa, menos de nós mesmos, ok?! Falta acesso sim! Falta educação sim! Falta cultura sim!
Infelizmente nós baianos, não compreendemos bem a diferença entre o ser acolhedor e aceitar tudo (refiro-me a música) que é imposto, seja nos carrinhos de ambulantes pelas ruas, ou pelos malditos “DJs do Buzu”. Isto mesmo, malditos! Ora, alguém deve lucrar muito com este caos que se encontra a música baiana, fato.

Então, quando menos se espera, uma alma apresenta uma composição que exalta a mulher brasileira, que alavanca sua auto-estima, esta por sua vez, foi a mais tocada e eleita a música do carnaval da Bahia de 2008. Estou falando da “Toda Boa”, canção feita por Márcio Victor (bandleader do Psirico) que balançou literalmente as estruturas nos circuitos da folia baiana, já que nunca um pagodão conseguiu levar pra casa este título. A indústria milionária do Axé Music jamais permitiria que os “meninos do gueto”, os menos favorecidos sócio-culturalmente, aqueles sem acesso... Pois é, eles mesmos! Conquistassem de forma unânime todo o país.

Daí surge à pergunta: é implicância de uma gestora pública com a classe pagodeira, ou uma tentativa de reconstruir valores?

No debate transmitido segunda-feira passada pela TVE, foram sinalizadas várias composições de outros segmentos, inclusive do rock in roll, que em suas letras expressam o mesmo teor ofensivo, opressor, sempre em relação às mulheres, claro! Por que nós não passamos de coxa, bunda, peito, as que têm tudo isso nos padrões globais da vida.

Por falar em globo, ontem foi exibido na revista eletrônica Fantástico, um quadro explicando nacionalmente o ponto de vista da Deputada e os motivos pelos quais levaram ela a assumir este compromisso. Dentre as falas dos vocalistas, e suas respectivas justificativas, chamou minha atenção quando o vocalista da banda intitulada O Troco, disse que “tinha coisa mais importante pra os governantes se preocuparem, como o salário dos professores”. Ótimo, ele sabe quanto custa uma hora aula de um professor? #naogastaminhapacienciavai?!

É bem verdade que este é mais um enorme problema nacional e, outro importantíssimo assunto para debate. Contudo, neste caso, e no meu parecer, foi usado apenas como subterfúgio para distrair a atenção de um problema que o mesmo, perpetua com suas letras chulas.

O não menos importante vocalista da banda Black Style, também deixou um recadinho para o caro telespectador: “Não! A gente não quer agredir ninguém não, é só brincadeira”. Sério?!
Vou reunir a galera então, e amanhã vamos lá cantar pra mãe dele: “me dá patinha, sua cachorrinha!” #penaminhaeducaçaonaopermitiresteato!

Depois do debate na TVE e também a matéria no Fantástico, ficou explicitamente claro que, a lei não quer acabar com o pagode, mas sim, conduzi-lo a outro caminho, o caminho da pacificação. Recentemente o grupo Psirico apresentou mais uma composição belíssima, de forte crítica social; Está aí mais uma prova de que quando eles querem, é possível sim percorrer outro caminho.


Durante muito tempo denunciar atos de violência contra mulher era coisa de “gentinha”, até por que esta classe não tem um nome, melhor, um sobrenome a zelar, por outro lado as mulheres da elite fortalecida escondiam seus agressores por detrás de escorregões no banheiro, esbarros no armário da cozinha e tantos outros “acidentes domésticos”, contraditório não?!

Não dá pra compactuar com atos de violência, sobretudo os atos de violência contra a mulher, não mesmo!
Músicas com duplo sentido normalmente incentivam a desvalorização da mulher, reduzem a figura feminina meramente a objeto sexual. Sem contar nas tantas apologias feitas pelos comerciais de grandes cervejarias, onde a mulher é venerada, sim! Na verdade, o seu corpo que é venerado e desejado por todos os homens do bar, do boteco; Já o cérebro... pra que né gente?! A casca já está de bom tamanho.

Portanto, assumo agora o compromisso de ajudar a fazer deste projeto, lei!
E desta forma, perpetuar a luta pela igualdade de direitos, até que sejam alcançados.




Lais Martins,

01/08/2011.

2 comentários:

  1. Peixonauta, é bem por aí viu.
    As pessoas estão aí gritando, dizendo que Luiza quer acabar com o pagode, mas tem duas questões fundamentais no projeto:
    Não é ‘o pagode’, é ‘as bandas que tenham músicas com letras que denigram a mulher’. Por que não podemos pensar em bandas de pagode que não tenham letras desse tipo?
    Outra coisa é que não está se proibindo que as pessoas escutem essas músicas (as com letras pejorativas), se a pessoa gosta de bandas assim pode ouvir em sua casa, em se carro, em festas ou outro lugar, a restrição é apenas e somente para eventos que sejam promovidos com dinheiro público. Por que né... estado pagar por bandas assim é, de alguma forma, está incentivando o “rala a xana no chão”.

    Uma boa percepção sua é essa questão outra aí: não é só o pagode que faz músicas com letras que denigrem a mulher. Há bandas de forró, axé e até mesmo rock, que também cantam por aí coisas erradas sobre a mulher.
    E pra finalizar, eu só queria anunciar meu desprezo a essas pessoas que ficam dizendo que a deputada deveria se preocupar com coisas mais sérias. A sociedade gosta de cruzar os braços pra pequenas coisas, esquecendo que são estas pequenas que constroem as grandes conquistas. Zelar pela dignidade da mulher não é importante?

    Ficou ótimo o texto. Beijo grande, Lalai ;)
    E desculpa pelo comentário gigante

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