terça-feira, 6 de abril de 2010

Da Janela.

Da janela, na sala de casa, observo um velho moço, buscando no lixo o 'pão nosso de cada dia'. As sobras do meu almoço, do café da noite de ontem, seu banquete. As crianças em volta brincam inocentes, com fome, com frio, com sede... No olhar, interpreto o desejo de nunca mais sentir aquela sede. Deus! Até quando, eu, hipócrita, ficarei de pé, na minha janela, sentindo muito apenas...sentindo por não conseguir mudar aquela realidade, diante de mim mesma, tão próxima à vida que eu penso ser minha, uma realidade inescrupulosa? Déficit na educação? Talvez... e a fome? Dois seres no tele-jornal, bárbaros, disputando um pedaço de frango, em estado de putrefação, isso não é apelação de novela das oito não, é real, acontece no dia a dia, porém quase ninguém vê, mais vale o ouro aos olhos, fato. A fome não tem cor, nem luz. Dividi em pedaços meu espírito o estado em que me encontro, impotente, assim eu me sinto. Saciar a fome daquele moço, não garante sua 'barriga cheia' amanhã. Um discurso clichê falar em sedimentar a base para uma mudança, essa sociedade entende o que é base? Sério? Como? Se há tantos morrendo de fome! ... Uma infinidade de interrogações vagando em meu pensamento, só, é dificíl mudar toda uma civilização, mas cada ato meu, influencia o que colhemos no futuro. Cabe a mim decidir por passar adiante a ignorância, o descaso, ou, sinalizar a falha no sistema, despertar no próximo uma reflexão, e junto a mesma, ação.
Eu, que não como carne cozida, e reclamo a minha mãe por ela não ter assado um pedaço da mesma, ainda assim, tenho um pãozinho com queijo no jantar, enquanto aquele velho moço, e tantos outros, sabe Deus há quantos dias não se alimentam!?
Até quando?