Sensação de abandono, angustiadamente
boa. Desde que me deixei pude enxergar
nos meus escombros a chance de me reconstruir, de repintar minhas paredes, de
me recriar numa nova forma. Comecei sem pressa, meu terreno está em obras, e no
lugar de tijolos frios, encontrei as vigas de um novo amor, daqueles que te
fortalecem, te põe de pé, porque é erguido que a gente sustenta. Amor é o nome que
alguém deu e eu nem sei o que quer dizer.
Abandonei mágoas, mas não as
esqueci, abandonei o orgulho, ainda que possa me ferir novamente, a gente nunca sabe como, nem quando vai se ferir, doer faz parte. Quase me esqueci de lembrar do que devo
esquecer, e isto também é abandono. Dar adeus a si mesmo é tão estranho, olhar-se
de fora e não conseguir mais se enxergar de frente ao espelho, não porque tornastes invisível,
apenas porque ele não reflete mais quem agora está ali.
Jogar fora tudo que já cumpriu
seu papel e não servirá a mais ninguém. Deixar ir, só o que não quis ficar, do
contrário, jogar fora mesmo! Matéria morta à gente recicla, e eu estou viva! Bem viva! Meu canteiro cheio de ferramentas e muitas delas eu não faço ideia para
quê servem, mas servem a algum propósito, eu sei. É com muito labor que se constrói arranha
céus, eles estão no topo, mais perto de Deus, longe de toda negatividade, prefiro
imaginar.
E sigo tentando, me abandonando,
partindo sem dar adeus ao que me deixou, são as portas e janelas que necessitam
estar abertas para toda sorte e todo amor entrar. Da minha tela sinto o cheiro
no vento, sinto acordar, linhas a escrever do novo amor que chegou.